Resumo: O Simpósio Temático Militância e vida cotidiana: os anos 60 e 70 no Cone Sul se propõe como um espaço de intercâmbio para trabalhos de investigação sobre a militância social e política dos anos 60 e 70 e as resistências às ditaduras focalizados especialmente nas relações muitas vezes tensas entre militância e vida cotidiana, militância e gênero, violência política e subjetividades militantes.
A rebelião estudantil, operária e juvenil dos anos 1960 e as formas de contracultura e resistência social, se relacionaram fortemente com a convicção de que a transformação social e política teria que ser radical. Essa convicção deu forma a certos modos de ação e implicações políticas que se definiram pelo uso de formas de expressão públicas massivas e territorializadas, assim como pela radicalização e a militarização paulatinas das práticas e discursos sociais. Os anos 60 também são o momento em que se produz uma virada para a centralidade da experiencia pessoal, exemplificada pelo slogan do movimento feminista “ o pessoal é político”.
Os trabalhos que serão discutidos no simposio abordarão as experiências da militancia política durante as décadas de 1960 e 1970 nos países do Cone Sul, centrados em tópicos específicos que demonstrem a imbricação e a tensa relação do pessoal com o político. Nosso objetivo é propiciar um diálogo que estabeleça comparações entre os processos dos distintos países da região, tomando como ponto de partida as particularidades de cada país.
19/09 - Quinta-feira
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Elianara Corcini Lima (Centro Universitário La Salle)
1964: Memórias de dor persistentes
De 1964 a 1985, o Brasil vivia um governo autoritário marcado por prisões, torturas, mortes e desaparecimentos. No contexto apresentado procuramos refletir sobre a violência na ditadura militar, e sua persistência até os dias atuais, como causador de memórias de dor. Este trabalho se desenvolve em um momento que o Brasil constitui a Comissão Nacional da Verdade que busca averiguar os abusos cometidos contra os direitos humanos, retirando-os do esquecimento ao qual a lei de Anistia de 1979 os submeteu. A reflexão acontece no campo da memória social, no cruzamento de diferentes campos de estudo: Benjamin, a narrativa como forma de expressar a memória; Ruiz, a manutenção da violência a partir da potência mimética; Ricoeur, o dever de memória; e, Eisler, o escalonamento de um sexo sobre o outro como condição para a sustentação da violência. Assim, buscamos compreender como a violência se mantém na sociedade brasileira causando memórias de dores.
Palavras-chave: Memória; Violência; Ditadura.
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Ana Rita Fonteles Duarte (Universidade Federal do Ceará)
Moral e comportamento a serviço da ditadura militar – uma leitura dos escritos da Escola Superior de Guerra
A Doutrina de Segurança Nacional (DSN), criada no âmbito da Escola Superior de Guerra (ESG), sobre a qual se construíram as linhas de ação ditatoriais na ditadura civil-militar, implantada no Brasil em 1964, defendia que os antagonismos e pressões externas ou internas provocados pelo “inimigo” poderiam assumir diversas naturezas (política, econômica, psicossocial, militares) e formas (violência, subversão, corrupção, tráfico de influência, infiltração ideológica, domínio econômico, desagregação social ou quebra de soberania).
A degradação moral era vista pela Doutrina como uma das armas usadas pelos comunistas para desagregar a sociedade tornando-a campo fértil para a disseminação de suas ideias. Para combater essas pressões seria necessário lançar mão de gestões junto às instituições sociais.
O objetivo desta comunicação é, a partir de documentos produzidos pelo principal centro formador de lideranças do regime ditatorial, a Escola Superior de Guerra, como manuais, revistas e livros, analisar as representações da instituição sobre relações de gênero, enfocando os modelos pretendidos para homens e mulheres e a importância da mobilização destes para a construção do projeto de poder do Estado autoritário.
Palavras-chave: Ditadura; Moral; Escola Superior de Guerra; Gênero.
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Julia do Carmo da Silva (Universidade Federal de Santa Maria)
O discurso da revista "Rainha" sobre família durante a Ditadura Civil-Militar
O presente trabalho analisa de que forma o discurso da revista “Rainha”, periódico religioso da cidade de Santa Maria no período da Ditadura Civil-militar servia como legitimador desta, através da consolidação do modelo de família e indivíduo padrão para a época, com foco nas mulheres. Para isso, a análise se foca em reportagens da revista publicadas ao longo do ano de 1971. Através da defesa de pressupostos de autores da Indústria Cultural, como Adorno e Horkheimer busca se explorar a influência da mídia e de que forma ela pôde ser usada para contribuir com a manutenção do período.
Palavras-chave: Ditadura Civil-Militar; Revista "Rainha"; Santa Maria.
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Thiago do Vale Pereira Livramento (Universidade Federal de Santa Catarina)
O feminismo em páginas alternativas
O presente trabalho tem como proposta, a realização de uma breve análise das reportagens, que tinham como foco central o Movimento Feminista de Segunda Onda. As reportagens escolhidas foram veiculadas nos periódicos alternativos brasileiros: Em Tempo; Movimento e Repórter, no período marcado na história brasileira pelo governo da Doutrina de Segurança Nacional, mais especificamente a década de 1970, período em que o movimento obteve grandes conquistas e que teve uma grande visibilidade, além de ser o apogeu da imprensa alternativa no país. É importante destacar que as feministas possuíam suas publicações, mas que buscaram espaço em outros jornais para chamar atenção para suas reivindicações. Para essa análise, estou utilizando a categoria Gênero como suporte teórico central, uma vez que, mesmo encontrando ecos dentro de outros títulos da imprensa, as temáticas feministas não foram tratadas de forma consensual. Para uma melhor compreensão do meio alternativo, é preciso contextualizar tais periódicos, assim como, destacar as contribuições destes nas lutas de grupos sociais e pela redemocratização. O presente trabalho é um recorte de minha pesquisa de mestrado, cuja temática são os discursos de gênero em imagens veiculadas em periódicos alternativos do Brasil e do Paraguai.
Palavras-chave: Imprensa Alternativa; Feminismo; Ditadura e Gênero.
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20/09 - Sexta-feira
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Claudia Andrea Bacci (Universidad de Buenos Aires)
Cuerpos liberados y política revolucionaria (Argentina, 1960-1973)
Este trabajo indaga en la relación entre política y cuerpo, a través del análisis de las representaciones de la militancia en algunas publicaciones periódicas de organizaciones revolucionarias durante el periodo 1960-1973 en la Argentina.
La rebelión estudiantil, obrera y juvenil de los años 1960-1970, junto a las contraculturas y “revoluciones” de la vida cotidiana, produjeron modos de acción marcados por formas de expresión pública radicalizadas. Estas manifestaciones colocaron al cuerpo en el centro de nuevas formas de experimentar subjetivamente lo público.
¿Cómo estaban implicados los cuerpos en la política en el marco de las propuestas revolucionarias de las décadas de 1960-1970?
La analogía entre el cuerpo humano y la comunidad política ha recorrido el pensamiento filosófico-político, condensada en la metáfora del “cuerpo político”. Sin embargo, cuerpo y sexo han sido elididos del ámbito de lo político, constituyéndose así un sujeto de la política asexuado y universal. El reconocimiento de esta determinación del sujeto político ha sido planteado por el feminismo desde los años 1970, aunque esta elisión no se limita a las mujeres. Así, es la propia categoría de política la que reclama ser problematizada a partir de la inclusión del cuerpo en la escena de la revuelta.
Palavras-chave: Cuerpo; Política; Revolución.
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Débora Strieder Kreuz (Universidade Federal de Pelotas)
Mulheres em notícia? Problemáticas feministas nas páginas do jornal “A Classe Operária” – 1967-1975
O presente trabalho objetiva apresentar uma análise da representação do feminismo no periódico A Classe Operária, vinculado ao Partido Comunista do Brasil – PCdoB - no recorte temporal dos anos de 1967 a 1975. No contexto de combate ao autoritarismo, especialmente por grupos clandestinos de esquerda, onde o partido se encontrava, houve também o surgimento de demandas específicas de outros segmentos, sendo o objetivo da pesquisa, em especial, as mulheres. O trabalho busca analisar como tais reivindicações eram enfrentadas pelo jornal, tendo em vista o fortalecimento do movimento feminista a nível mundial e seus consequentes reflexos no Brasil. Dessa forma, pretende-se discutir a forma como o feminismo foi, ou não, incorporado à pauta de lutas do PCdoB e como ocorreu sua representação pelo periódico.
Palavras-chave: Ditadura; Mulheres; A Classe Operária.
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Tamy Amorim da Silva (Laboratório de Estudos de Gênero e História- UFSC)
Therezinha Godoy Zerbini e Carmen Lara Castro: As “burguesas” que foram à luta.
O presente trabalho tem como objetivo narrar às trajetórias de vida de duas mulheres que lutaram contra as ditaduras em seus países e auxiliaram familiares de pessoas desaparecidas, detidas e mortas. São elas: Carmen Casco Miranda de Lara Castro, e Therezinha Godoy Zerbini. Essas duas mulheres, nascidas em famílias tradicionais, foram responsáveis por organizar nas décadas de 1960 e 1970, grupos de assistência aos familiares no Paraguai e no Brasil, respectivamente. Therezinha Godoy Zerbini e Carmen Casco Miranda de Lara Castro não participaram de movimentos de esquerda. Eram mulheres, “burguesas”, que durante a ditadura tomaram a frente na luta pelos Direitos Humanos, pela Paz e pela Família. A partir dessas trajetórias, pretendo comparar como o gênero foi reforçado e usado como arma na luta política dos movimentos de familiares. Para tanto, utilizei ferramentas da História Oral, da História Comparada e dos Estudos de Gênero para escrever o trabalho e analisar as fontes. Além disso, utilizei para elaboração deste artigo, fontes como: jornais, entrevistas orais, livros de memória entre outros documentos. Foram documentos essenciais que possibilitaram a escrita desta breve narrativa.
Palavras-chave: Gênero; Trajetórias; Ditaduras Civis Militares.
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Margarita Danielle Ramos (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)
Um breve histórico do movimento feminista no Brasil e a luta contra a violência de gênero.
O trabalho ora apresentado é fruto da pesquisa feita sobre assassinato de mulheres durante meu mestrado. Essa pesquisa tem como intuito, apresentar um breve histórico de como as militantes do movimento feminista brasileiro, através de sua luta, mostraram que os assassinatos ocorridos contra as mulheres deveriam ser compreendidos como uma violência de gênero. Assim, será apresentada a forma como o movimento feminista brasileiro se organizou a partir da década de 60 durante a ditadura militar, do século XX, como um movimento sólido, não partidário, que propunha lutar contra qualquer tipo de preconceito ou violência contra as mulheres. Buscando denunciar a aparente “neutralidade” das “diferenças sexuais” e da forma como esses assuntos, ditos do “domínio privado”, eram banidos das discussões. Dessa forma, as militantes apontaram que o político não era apenas aquilo que fazia parte da esfera pública, mas também, da esfera privada. Para tanto, fizemos um breve apanhado dos jornais feministas impressos durante esta época, e da criação do Centro da Mulher Brasileira e do SOS-Mulher.
Palavras-chave: Violência de Gênero; Histórico do movimento feminista; Assassinato de mulheres.
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Marli Paulina Vitali (Universidade do Extremo Sul Catarinense)
Uma voz feminina no movimento estudantil de Criciúma
O movimento estudantil secundarista criciumense viveu um período de organização entre 1960 e 1966, tempo em que existiu e atuou a União dos Estudantes Secundários de Criciúma, a UESC. A cidade na década de 1960 vivenciava a efervescência do desenvolvimento econômico, impulsionado pela exploração do carvão mineral. Esse fator também motivava discussões entre donos de minas e trabalhadores, que lutavam por melhores condições de trabalho. No meio agitado, surgiu uma entidade estudantil que procurava representar o jovem estudante criciumense. A UESC foi criada para ser essa representante do estudante secundarista, fornecendo a carteirinha que dava direito a meia entrada nos cinemas da cidade, mas acabou se tornando uma entidade participativa das discussões da sociedade. A história oral, a pesquisa documental, em jornais, fotografias e aportes teóricos, contribuíram para fazer a reconstrução da entidade estudantil. No percurso, a voz feminina se faz presente com a história de uma das mulheres mais atuantes no movimento. Ana Maria viveu intensamente a política estudantil no início dos anos de 1960. De família tradicional, deixou de lado os vestidos para ser militante, mas teve seus ideais ceifados pela família. Deixou Criciúma para não voltar mais.
Palavras-chave: União dos Estudantes Secundários de Criciúma; Movimento estudantil; Juventude; Mulher.
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